O poder...

Eu nao conheço na Terra
nenhuma dor mais ligeira
que o grande prazer de ter
entre as mãos, o poder...
O poder, se soubessem o seu preço em si
é a morte k vos sorri
a eternidade que eu vivi
e quando devolvo a justiça
a virtude contra o vício
é o pai que fala ao filho
eu mando ele obedece...
O poder mereçe-se
tira-se ou herde-se
e o dia em que o deixaremos
o nosso mito construiremos...
O poder queima em nós
deixa-nos loucos e sós
ao poder agarramo-nos bem
e quando ele nos abandona....
já não vem...

Oficina da escrita...

"(...) estátuas de híbridos a observar-me com atenção(...)"
"A sucessão das minhas palavras não bate certo. Ele está desconfiado."
"O novato ao lado diz que as profecias por vezes não são certas. Mas ele não falou. Serei louco?"
"O chiquismo parece ter invadido a sala branca."
Adormeci olhando para a chama que se formou a minha frente: misturas de mentiras e de tentações queimadas pelo prazer e conforto da família. Sou pai há já três anos e nunca me aprecebi dos factos.
Foi com doçura e carinho que entrei num espaço branco. Branco? Branco é metáfora! Será esxagero se eu dissesse que nunca vi um branco tão branco? Nem na cozinha da minha sogra?
É uma sala luxuosa, sem movimentos certos nem definidos, sem interferência, nem humana, nem vital. Parece o desejo que peço sempre que o meu filho começe a chorar ao meio da noite. Serei arrogante?
A sala é parecida com um tribunal virtual, confortável e atraente.
De repente, como se um enxame passasse ao meu lado só para me chamar a atenção, olhei para um altar que não tinha visto quando entrei (e que tenho a certeza que não estava). Alí está sentado um homem. Parece-me fatigado e sem forças. Tem os olhos rasgados numa onda de pequenas rugas, desfigurando uma cara branca de velhice. Mesmo ao lado d'Ele, está um outro homem, mais novo e mais inocente. Será? Está quieto. Parece uma estátua. Até quebrar a routina, olhar para mim e dizer: "O mundo é injusto".
Sem me apreceber, respondi:"Não. O mundo é egoista".
Esperem lá! Porque falei? O que estou aqui a fazer? O meu cérebro está baralhado. Estou inconsciente, só pode ser isso!
Mas o Velho Homem é um mineral de tentação... Estou com sede de curiosidade, eu quero saber quem Ele é, e se não estou a sonhar...
Quando eu ia-lhe perguntar porquê, ele olhou para mim fixamente. Foi um olhar frio e vibrante... Já não quero sonhar!
As minhas pestanas não se querem mover, nem para cima, nem para baixo. Paralisado, olho para Ele também. Ele pega então num livro e começa a sua leitura: "A xilografia..."

Quem acorda primeiro?

Congelação de formigas...
Submeter ao frio...
Uma pequena, outra grande...
7 á 8 minutos foi suficiente para deixar as formigas inconscientes...
A pequena demorou 2 minutos a acordar...
A grande... não acordou...
A sobrevivente mexeu as suas pequenas patas...
Finas patas...
Ultrasensíveis...
A quintina é então invadida por uma força sanguínea brutal...
O abdómen move-se e torce-se...
Ela apalpa as suas antenas desarticuladas...
A antenação prepara-se para começar a servir de sensor, de sinal táctico...
Ela entra em contacto com o material da caixa...
Ganha força para se orientar...
A sua parte sistal deixa-a exprimir-se...
Eu estou aqui, onde estava há 10 minutos atrás...
Eu sei que fui levada da minha colónia mista...
Eu sei que fui fechada aqui...
O ocelo é o último a activar-se...
Ela anda devagar e com prudência...
Fraca, apela socorro...
A feromona de alarme é lançada...
Mas ninguém a sente...
Tem o sangue demasiado frio...
Não há contacto fórmico...
Espera...
Há um agora...
Com a minha mirmecófila...
A Teoria da evolução quebra-se...

Mil perguntas...

Já pensaram bem na forma como vivemos? No contexto cultural que apoiamos e desenvolvemos todos os dias? Porque será que agimos mal quando estamos confrontados a um acontecimento que desconhecemos? Será por falta de experiência? Ou simplesmente medo? Será porque sabemos que o resultado da luta será negativo? Já pensaram bem na nossa civilização? E na das formigas? Será coincidência ou somos descendentes dessas minúsculas criaturas? Haverão diferenças psicológicas ou somente físicas? Porque é que não sabemos tudo? Porque será que não podemos utilizar outro tipo de comunicação além da vocal, gestual ou telepática? Poderemos um dia vir a ser tão inteligentes como as formigas? Já imaginaram o céu debaixo dos nossos pés e a terra a flutuar por cima? Porque será que isto não pode acontecer? Seremos nós muito pesados para a atmosfera? Ou muito leves para a terra? Ou será que a terra é mais forte que o ar? Mas o vento arrasta a terra, então será o contrário? Podemos nos recordar do nosso nascimento? Porque não? Qual é o mal? Será demasiado tempo para o armazenamento de recordações do nosso cérebro? Então porque é que certas pessoas conseguem se lembrar da infância, quando tinham apenas um ano ou pouco mais? Porque será que nós não temos essa sorte? Porque é que existe a sorte? Seremos mais felizes com ela? Será que o azar não existe? Então porque é que morremos por acidente? Será obra do azar? Ou falta de sorte? A ausência de sorte mata sempre? Então porque é que quando tropeçamos não morremos? Será porque o impacto não é suficientemente brutal? Porque o nosso corpo é forte? Então porque é que existem pessoas que morrem subitamente sem nenhuma explicação? Será azar? Poderão um dia responder a essas perguntas todas? Sem deixar nenhuma para trás? Boa sorte!

Brothers Quay...

No meu primeiro ano de Faculdade, no curso de Design da Universidade do Algarve, tive uma disciplina chamada Semiótica 2, que era, para a infelicidade de todos, completa e cheia de "PPT", aos quais tentavamos escapar adormecendo no anfiteatro, e repleta de histórias pessoais que a nossa professora insistia em contar (para quem conhece a famosa Marina Graça)... Foi então que nos deu a conhecer, para mim, a essência da animação: os irmãos Quay e o grandioso "Street of Crocodiles"... Foi o melhor filme de animação que alguma vez vi... Com o melhor som que já ouvi... Só visto e ouvido mesmo...
Serenidade? Calma? Nem pensar! Eu quero fingir que a alegria já passou... Quero uma noite escura e arrepiante, um enlace de amargura... Quero uma descrença total, sem ganhar nada em troca, sem poder sorrir de novo, sem satisfação... Quero ser reduzida ao nada, niilismo completo... Lá no alto, tu, olho que me subleva a razão, deslumbra-te com a cegueira... Deixa-me pairar sobre um rio licoroso e letal... Abandona-me... Só quero ser feliz...